Nos Estados Unidos, 18% das mortes no trânsito relatadas como distração estão vinculadas ao uso do celular

Como sabemos, o Brasil é muito pobre em pesquisa e estatística e o tema trânsito, que tem um alto impacto na vida das pessoas e na economia do país, não é diferente. Desde o inicio da introdução do veículo automotor na nossa sociedade, o tema tem sido tratado com descaso e, muitas vezes, com irresponsabilidade pelos gestores públicos.  É um tema de terceira categoria na hierarquia da gestão pública.

Temos um bom código de trânsito. No entanto, ficamos por aí, não entendemos ainda a gravidade do problema e deixamos o assunto de lado, tratando-o ao sabor dos interesses políticos do momento. Onde está o projeto que faz do DENATRAN uma autarquia, portanto, com mais independência para definir políticas de segurança para o trânsito? Cadê o envolvimento das universidades e principalmente da indústria, que poderia contribuir e muito nesse processo de organização e pesquisa?

Muito pouco se investiga sobre as reais causas que levam aos acidentes e mortes no trânsito. É certo que na raiz do problema estão causas sobejamente conhecidas, como a baixa formação dos nossos condutores, o abuso da velocidade, o uso de drogas (principalmente o álcool, vendido livremente pelo país a fora), e a falta de manutenção das estradas e veículos.

No entanto, nas últimas duas décadas introduzimos novos elementos, tão ou mais perigosos, que os já conhecidos, que passaram a contribuir com esse verdadeiro genocídio sobre rodas que assistimos no Brasil. Este novo vilão é o telefone, sim o seu telefone celular.

Na falta de estatística local, fui buscar nos Estados Unidos algumas informações interessantes que servem para uma reflexão.

Segundo dados publicados pela NHTSA (National Highway Traffic Safety Administration) em 2009, 5.474 pessoas foram mortas nas rodovias norte-americanas, e, estima-se, que 448.000 sofreram algum tipo de lesão em acidentes reportados com veículos, tendo como motivo a distração ao volante.

Dessas mortes relatadas por distração ao volante, 995 foram diretamente relacionadas ao celular, ou seja, 18% das fatalidades. Daquele total de lesionados, 24.000 também estão relacionadas ao uso do celular, ou seja, 5% do total.

Infelizmente lá como cá, nessa sinistra estatística, 16% das vítimas são os jovens com menos de 20 anos. A maioria das vítimas está na faixa de 30 a 39 anos. Portanto, na fase mais produtiva da vida.

Não é possível uma analise desse tipo em acidentes no Brasil pela ausência de um órgão púublico que realmente defina políticas e faça a gestão do trânsito com a abrangência necessária para gerar informação e estabelecimento de políticas de prevenção.

Para dar uma ideia do tamanho do problema no Brasil, costumo utilizar os dados do Boletim Estatístico do DPVAT (Consórcio de Seguros), que indicam os seguintes dados para o ano de 2.011.

Indenizações pagas por:

  1. Morte: 58.134
  2. Invalidez Permanente: 239.738
  3. Despesas Médicas: 68.484

Como mencionei, não conseguimos saber o efeito do celular nas estatísticas brasileiras, mas, se fizermos uma relação direta com os dados daquele órgão norte-americano, teremos um alto índice de acidentes causado pelo uso indevido de celular também no Brasil.

Portanto, caro leitor, quando estiver ao volante não use o seu celular para não ser mais um número nesta triste estatística. Se ligue na vida e desligue seu aparelho.

Silvio Médici é engenheiro e presidente da Abeetrans