O MAIOR PRAZER DE DIRIGIR É CHEGAR VIVO
Silvio Médici, presidente
Uma das grandes paixões do brasileiro é, sem dúvida, o automóvel. Desde os anos 50, aqui e também no mundo, os carros materializam o desejo de liberdade e de autonomia. E nem poderia ser diferente no Brasil. Sem oferta de transporte público, e com os sucessivos governos desde sempre apostando tudo no transporte sobre pneus, o que restou à população para seu deslocamento foi o automóvel, que virou também uma necessidade.
Hoje, temos uma frota de mais de 90 milhões de veículos automotores que circulam pelo país, sendo que 2,7 milhões são veículos de cargas, que transportam 61% de todas as cargas movimentadas no Brasil, em 213 mil quilômetros da malha rodoviária pavimentada.
Nossos sistemas de transporte abrem o mundo para nós, mas eles vêm com um preço trágico*
Dr Tedros Adhanom Ghebreyesus
Diretor geral
OMS – Organização Mundial de Saúde
Quando você ler esta página, pelo menos cinco pessoas terão morrido em acidentes de trânsito. Os acidentes viários são a principal causa de morte de crianças e jovens, e eles normalmente acontecem durante o período mais produtivo dos anos, causando enormes danos à saúde, sociais e econômicos em toda a sociedade.
No entanto, este relatório oferece esperança e aponta para um caminho a seguir. Desde 2010, as mortes por acidentes rodoviários diminuíram ligeiramente para 1,19 milhão por ano. Mais de metade de todos os países membros da ONU ou Estados-Membros, incluindo alguns dos países mais afetados, relatam um declínio nas mortes.
Esses ganhos arduamente conquistados foram obtidos enquanto grande parte do mundo estava caminhando na direção errada. À medida que os veículos motorizados proliferam, os países estão a duplicar menos sistemas de transporte construídos para carros, não para pessoas e não com a segurança em seu núcleo. Isto impede os esforços para salvar vidas, proteger a vulneráveis e garantir um futuro sustentável.
Alguns dos maiores progressos foram feitos onde a abordagem do sistema seguro à segurança rodoviária tem sido aplicado. Esta abordagem holística à mobilidade coloca as pessoas e segurança na frente e no centro. Com uma população cada vez mais urbana e em rápido crescimento, exige uma combinação segura, eficiente e sustentável de tipos de transporte, incluindo transporte público de massa, enquanto garante a segurança de pedestres, ciclistas e outros usuários vulneráveis das rodovias, que são responsáveis por metade de todas as mortes.
Construir sistemas seguros também beneficia muitas outras áreas de saúde e desenvolvimento. Ao incentivar a caminhada e andar de bicicleta, por exemplo, ajudamos a reduzir a carga de doenças não transmissíveis, aumentar a atividade física, reforçar o acesso ao emprego e à educação e ajudar a combater das Alterações Climáticas.
Sabemos o que funciona; a vontade política deve corresponder à escala e urgência desta crise. O Plano Global para a Década de Ação das Nações Unidas para a Segurança Rodoviária traça o caminho a seguir, e todos tem um papel em tornar seguros, limpos, acessíveis e mobilidades verdes, uma realidade.
Os governos devem liderar estratégias de mobilidade que sejam enraizados em bons dados, apoiado por leis e fundos fortes e que incluam todos os setores da sociedade. Negócios devem colocar a segurança e a sustentabilidade no centro de suas cadeias de valor. A academia e a sociedade civil devem gerar provas e responsabilizar os líderes. Os jovens podem exigir ação e ajudar a realizá-la.
A mobilidade segura é um aspecto crucial do direito universal à saúde, um direito fundamental de todo ser humano. Mobilidade não deve e não precisa ter um custo trágico vidas humanas. O declínio nas mortes, mostrado neste relatório, fica muito aquém do que é necessário para reduzir para metade as mortes no trânsito até 2030, o que significa que a necessidade de ação é urgente, para concretizar a promessa de uma mobilidade segura e sustentável e de um ambiente mais seguro, futuro mais saudável e melhor.
Nossos sistemas de transporte abrem o mundo para nós, mas eles vêm com um preço trágico.
*Global Status Report on Road Safety 2023