Em maio último, o Centro de Pesquisa de Acidentes da Universidade de Monash, da Austrália, publicou pesquisa, coordenada pelo Dr. Stuart Newstead e Ângelo D´lia, sobre a relação entre a cor do veículo e o risco de acidentes.

O estudo tomou como base dados dos registros de acidentes das polícias dos Estados de Victoria e Western Austrália, durante o período de 1987-2004, e foi patrocinado pela Comissão de Transporte e Acidente (Vic Roads), órgão ligado ao Estado Australiano de Victoria e ao Ministério dos Transportes, e que gerencia e cuida da segurança de 23.320 quilômetros da rede de vias daquele Estado, além da NRMA Motoring and Service,  associação nacional que presta serviços aos motoristas em toda Austrália, entre outros órgãos.

O resultado dessa investigação concluiu uma significativa relação entre a cor do veículo e o risco de acidente. Comparado com a cor branca, uma quantidade de cores foi associada com alto risco de acidentes. São cores que geralmente têm baixo índice de visibilidade: preto, azul, cinza, vermelho, verde e prata. Nenhuma cor foi estatisticamente mais segura do que o branco, embora outras cores não possam ser distinguidas estatisticamente do branco em termos de risco relativo de acidente.

A associação entre a cor do veículo e o risco de acidente foi mais alto durante o dia, quando os riscos de acidente foram maiores para a lista de cor comparada com o branco, acima de 10%.

A comparação da análise dos resultados entre os dois Estados pesquisados sugere que as cores de baixa visibilidade também estão associadas com a severidade dos acidentes, tendo mais risco de acidente grave. Além disso, o resultado da pesquisa sugere que fatores do meio ambiente também podem modificar a relação entre a cor do veículo e o risco de acidente, mas admite que sejam necessários mais estudos para quantificar essa observação.

Conclui o estudo, entre outras coisas, que a simples solução de trafegar durante o dia com lanternas e luz de segurança acesas pode efetivamente anular o elevado risco de acidentes relacionados à cor do veículo.

Conclui também que campanhas para modificar a escolha da cor do veículo poderão diminuir o risco de acidente para a frota como um todo entre 5% e 10% sobre o ciclo de vida da frota de veículos, mas isso tem muito menos influência do que as mudanças de comportamento, tais como dirigir sob efeito do álcool e a velocidade.

Obviamente, o estudo requer muito mais espaço para ser comentado e brevemente vamos colocá-lo na íntegra em nossa página para que os pesquisadores e interessados possam tomar conhecimento. Enquanto isso, gostaria  de fazer algumas considerações.

Chama a atenção o grau da sofisticação do estudo realizado por uma universidade e patrocinado por importantes órgãos públicos ou associados, responsáveis pela gestão trânsito. Pesquisar a relação entre a cor do veículo e o risco do acidente é um luxo para nós que sequer conseguimos ainda ter uma base de dados confiável para a frota nacional. É muitíssimo importante a implantação e integração do Renaest (Registro Nacional de Acidente e Estatística de Trânsito), para que as autoridades gestoras do trânsito tenham uma base de dados para o planejamento do seu trabalho.

Parece bobagem, mas, na verdade, é uma questão econômica de alta relevância para o país. Senão vejamos:

O trânsito brasileiro é responsável por gastos superiores a R$ 27 bilhões, de acordo com o Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), somente com acidentes. Num país com as graves carências sociais, esse dinheiro faz muita falta na educação, saúde e infra-estrutura.

Nessa conta não estão computados gastos com custos de manutenção de uma frota que vive queimando combustível em intermináveis congestionamentos nas grandes cidades e nem gastos de manutenção devido à precariedade das estradas, muitas delas intransitáveis e sem segurança.

Pesquisas como estas da Universidade de Monash são exemplos que precisamos olhar com muita atenção. Aqui no Brasil temos grandes universidades e profissionais qualificados que poderiam trabalhar na gestão do trânsito, planejando e pesquisando para podermos ter chance de melhorar a nossa qualidade de vida no futuro.