José Aurélio Ramalho Observatório Nacional de Segurança Viária

Os tempos mudaram. Situações inimagináveis estão se descortinando numa velocidade que, nem sempre, conseguimos acompanhar. Porém, sábios serão os que conseguirem tirar algumas lições desses tempos atuais. Por aqui, já estamos tentando fazer uma “limonada” com esse “limão”. Inúmeros dados e informações sobre tantas situações publicadas e que, no Brasil, sempre levaram anos para serem divulgadas, que ainda estamos tentando contabilizar.

Até o dia 29 de abril de 2020, segundo o (Ministério da Saúde, 2020a), foram registradas 5.466 mortes devido ao COVID-19. Considerando o número de mortes no trânsito proporcionais para o mesmo período do ano de 2018, ano mais recente com informações disponíveis, ocorreram 8.678 mortes devido a acidentes de trânsito. 

Imagine se a imprensa noticiasse os acidentes de trânsito como uma pandemia todos os dias. As notícias seriam mais ou menos assim: 

  • Ontem, o trânsito matou 90 pessoas no Brasil, média mantida nos últimos 12 meses. 
  • A maioria dos estados brasileiros tem números alarmantes de acidentes de trânsito.
  • Chegamos a mais de 32 mil mortes no trânsito em 1 ano. 
  • 60% dos leitos nas emergências dos hospitais estão ocupados por vítimas do trânsito.
  • Diariamente, quase 650 pessoas deixam os hospitais em todo país, com alguma deficiência permanente física ou mental, todas são vítimas do trânsito.
  • Em um ano, teremos um exército de mais de 235 mil deficientes permanentes, decorrentes de acidentes de trânsito.
  • O país gasta por dia R$ 130 milhões, ou seja, 50 bilhões de reais por ano serão gastos com acidentes de trânsito, isso significa 60% do que será economizado com a reforma da Previdência Social em 10 anos.

Estamos iniciando mais um mês de maio, o mês da segurança no trânsito. Aqui no Brasil, o movimento Maio Amarelo será diferente esse ano. Com as recomendações do distanciamento social, as ações presenciais de conscientização para a responsabilidade de cada um no trânsito não poderão ser realizadas ou melhor, foram transferidas para setembro (o mês que já é realizada a Semana Nacional de Trânsito, segundo o Código de Trânsito Brasileiro). Com isso, durante maio, usaremos os meios digitais para chegar ao maior número de pessoas e falar de segurança no trânsito.

Nesse ano, o tema do Movimento é: “Perceba o risco. Proteja a vida”, reflexão que se encaixa perfeitamente também no momento de pandemia em que vivemos. Quando o cidadão entende o risco da doença, se adapta ao isolamento, por mais difícil que possa parecer, porque quer proteger a sua e a vida dos demais. E no trânsito, não é diferente perceber o risco e respeitar a velocidade, não beber se vai dirigir, fazer manutenção no veículo, não usar o celular ao transitar entre outras atitudes pode machucar outras pessoas e a si próprio. Portanto, se você ainda acha que morrer no trânsito é fatalidade, comece a pensar que é possível evitar toda e qualquer morte ou machucado num acidente. É possível sim!

O Movimento Maio Amarelo nasceu no Brasil, dentro do Observatório Nacional de Segurança Viária e foi inspirado no Outubro Rosa. Ou seja, mobilizar a sociedade numa causa que é de todos e que afeta indistintamente a sociedade. E, algumas cidades, nos dois últimos anos do Movimento, já registraram menos acidentes e mortes durante o mês de maio, ou seja, o mês onde há milhares de mensagens sobre a importância de ter responsabilidade ao transitar. Por isso, é fundamental perceber o risco para proteger a vida.