No início da quarentena percebemos que a queda na circulação de veículos e pessoas reduziria os acidentes, liberando leitos do setor de emergência dos hospitais, onde em média 40% da ocupação é utilizada para atender vítimas da violência no trânsito. 

Em 2019 o seguro DPVAT pagou 40.721 indenizações por morte e 235.456 por invalidez permanente, o que deixa claro como a redução dos acidentes contribui para ampliar a capacidade de atendimento dos hospitais. Mas a questão é saber o que vai ocorrer após o isolamento em que vivemos devido ao Covid-19?

Será que mudaremos nosso comportamento no trânsito? Teremos aprendido a lição de que são vidas e não estatísticas? No nosso entender, os números somente vão mudar quando aceitarmos que punir é uma forma de educar. Na prática a fábrica de infratores é infinitamente maior que a suposta indústria da multa e cresce com a impunidade.

Como exemplo, relato caso no Mato Grosso do Sul, onde um youtuber de Campo Grande posta diariamente vídeos cometendo crimes de trânsito, assim como milhares de outros youtubers em todo país. Pois um policial rodoviário federal, que tem um canal educativo, mostrou as imagens desse potencial assassino tentando atingir 300 km/h de dia numa rodovia federal e fez várias observações sobre os riscos que representa para todos os usuários da via. 

Poucas horas depois, o Youtube tirou do ar o vídeo do policial para proteger os  direitos autorais do infrator. Enquanto isso, o canal do youtuber, com milhares de crimes de trânsito veiculados pelo próprio infrator, continuou no ar para deleite de seus quase 200 mil seguidores.

Estes infratores contumazes são remunerados pelo Youtube, através dos anúncios do Google, chegam a ganhar mais de R$ 70 mil por mês de publicidade. Eles são a prova da impunidade no trânsito, que ainda é remunerada por uma multinacional da mídia. Enquanto isso, a política do governo federal é desligar radares e retirar os equipamentos da polícia. Beneficiando e estimulando ainda mais os infratores.

Isto explica porque a Polícia Rodoviária Federal registrou queda de apenas 3% dos mortos nas rodovias entre os dias 11 de março até 26 de abril deste ano. Enquanto nas rodovias paulistas, onde a polícia fiscaliza de fato velocidade, a redução no mesmo período foi de 34%. Mesmo assim, basta ver as imagens dos infratores nas mídias sociais para entender quanto ainda precisamos investir na fiscalização para realmente inibirmos esses infratores.

A tolerância com os infratores ou rigor na punição dos criminosos do trânsito e potenciais assassinos é que vai dizer se realmente aprendemos o valor da vida após a pandemia. Qual será a escolha da sociedade?